Engana-se quem pensa que uma aula sobre reciclagem de papel se esgota com o procedimento em si. “As escolas dão ênfase à sustentabilidade e à consciência ecológica, mas o mais importante é conhecer o processo de fabricação do material e, assim, discutir transformações químicas e físicas”, aponta Mônica Peixoto, química da Abramundo.
Na Escola Municipal João Carolino Remédios, em Angra dos Reis, a 166 quilômetros do Rio de Janeiro, a professora Jéssica Mendes de Menezes Vallim propôs a atividade ao 3º ano com esse enfoque, em uma sequência didática sobre transformações. A garotada estava estudando os recursos naturais e as matérias-primas que geram os produtos que utilizamos, como a mesa, o lápis e o caderno. A docente comentou que o processo de fabricação deles gera muitos resíduos e que é preciso pensar em formas de reutilização.
Em seguida, Jéssica convidou a classe a pensar também sobre o lixo caseiro e em maneiras de aproveitá-lo e reciclá-lo, perguntando: “Como podemos reduzi-lo?”. Ela explicou que diminuir o consumo é uma possibilidade, assim como reutilizar objetos. Também deu exemplos dizendo que reutilizar é dar um novo uso a um material, como usar um pote de sorvete para armazenar algo.
Já reciclar envolve um novo processo de manufatura, que exige transformações físicas e químicas. Na sequência, a professora perguntou: “De onde vem o papel?” e “De que forma é feito?”. “Alguns até sabiam que ele vinha da árvore, mas não faziam ideia de como a produção ocorria”, diz. Ela questionou a meninada sobre meios de tornar maleável algo duro e resistente como a madeira. A turma ficou intrigada: “Como madeira pode virar papel? É impossível!…”, apostou a maioria. O restante arriscou alguns palpites, todos anotados pela docente.
Na aula seguinte, Jéssica comentou sobre a reciclagem e contou aos estudantes que eles fariam vários tipos de papel, com e sem aditivos, como talco e corante. “Esse acréscimo é feito logo após a trituração, quando se forma uma massa”, explica. Todos trouxeram jornais de casa. A classe foi dividida em grupos de cinco integrantes, nos quais cada um tinha uma função: picar, espalhar a massa na tela, recolher a água, secar com uma esponja e deixar o papel fininho.
As crianças tinham à disposição um texto com instruções. Jéssica sugeriu que elas observassem a situação inicial e a final do material. “Esse é um momento importante, pois leva os estudantes a exercitar o olhar científico”, diz. Ao longo do trabalho, a turma foi estimulada a fazer registros individuais, com relatos e desenhos de observação.
Desde o início da atividade, ela circulava fazendo intervenções. Pediu, por exemplo, que picassem bem o material – o que facilitaria a preparação da pasta para reciclagem e, consequentemente, sua qualidade. Também sugeriu que observassem as fibras, que ficaram aparentes depois dessa ação. Explicou, então, que o papel é feito com as fibras vegetais dos tronco das árvores e que tais fibras são compostas de uma substância chamada celulose.
Em seguida, mostrou uma imagem microscópica da superfície de uma folha de sulfite. Os pedaços de jornal foram colocados num recipiente com água. Jéssica recomendou que os alunos cuidassem para que o material ficasse até a metade o vaso. Caso contrário, a pasta ficaria grossa, assim como o produto final. Os estudantes agitaram o vasilhame.
Depois que a mistura ficou pronta, ela chamou a atenção para a prensagem. Comentou que esse processo é importante, pois a folha pode ficar grossa se a pressão for pequena. Por outro lado, se a garotada exagerasse, corria o risco de produzir um papel que rasgaria com facilidade. Por fim, Jéssica percorreu os grupos comentando sobre a necessidade de eliminar o excesso de água e acelerar a secagem.
Outra intervenção interessante é discutir o impacto da ação, com perguntas como: “Esse processo que fizemos tem algum problema?” e “Causamos algum nível de poluição?”.
Esses questionamentos levam a turma a refletir sobre a experiência.
Vale alertar para o descarte da água durante a reciclagem, sugerindo fazer uma decantação ou uma filtração e, assim, familiarizar as crianças com outro conteúdo das Ciências, os sistemas de purificação, como sugere Antonio Carlos Pavão, professor da Universidade Federal do Pernambuco (UFPE) e diretor do Museu de Ciência do estado. “Assim, o professor explica que essa água precisa ser tratada e descartada.”
FOCO NA CADEIA
Depois da reciclagem, foi a vez de aprofundar os conhecimentos por meio da leitura. Todos leram um texto informativo sobre o processo de obtenção do papel (material semelhante pode ser lido aqui – bit.ly/producaodepapel) e viram um esquema sobre a fabricação desse material. Também se informaram sobre os impactos ambientais e as fases de transformação da indústria papeleira.
Aprenderam que a produção de papel depende de etapas semelhantes às vistas durante a reciclagem em sala, como a adição de diferentes substâncias. Um exemplo são os corantes, usados para alterar a cor do papel. Solúveis em água, eles se prendem às fibras. Outro são os enchimentos, como o talco, semelhante ao utilizado por crianças. Na indústria, ele pode ser empregado juntamente com outras substâncias, como o carbonato de cálcio e a amônia, utilizados para aumentar a opacidade e a maciez, para facilitar o processo de impressão e para dar volume à pasta, reduzindo o custo de produção.
Na aula seguinte, a meninada comparou os papéis reciclados e não reciclados quanto à resistência, textura, espessura e capacidade de absorver água. Houve discussões sobre as variedades de papel e a relação entre o tipo e a utilização de cada um e sobre o uso do material ao longo da história.
A classe refletiu sobre o mundo antes da invenção do papel e lembrou das pinturas rupestres. Assim, a turma encerrou o trabalho, que permitiu um mergulho numa das descobertas mais úteis da humanidade.
1. DISCUSSÃO SOBRE O LIXO
Proponha que a turma pense sobre o lixo produzido em casa e em como reduzi-lo. Inicie uma discussão sobre reciclagem e reutilização.
2. PENSANDO SOBRE O PAPEL
Pergunte se a criançada conhece a matéria-prima do papel. Questione sobre o processo de produção dele, que transforma um material duro em algo maleável.
3. RECICLAGEM COM REFLEXÃO
Divida a turma em grupos e diga que vão reciclar papel. Enquanto a classe estiver preparando o material, circule pela sala fazendo intervenções pontuais.
4. FAZENDO RELAÇÕES
Convide a turma a ler textos sobre a cadeia produtiva do papel. Discuta o processo de produção industrial, estimulando a relação com a reciclagem feita em sala de aula.
DA MADEIRA À FOLHA
Conheça as etapas de fabricação industrial do papel que usamos no dia a dia:
Transformação física – Corte das árvores
Após sete anos de cultivo, o eucalipto é colhido. Troncos dessas árvores são cortados e transportados à fábrica de celulose.

Transformação física – Trituração
Os troncos são descascados, lavados e triturados. Em seguida, são transformados em pequenas lascas, que são cozidas.
Transformação química – Cozimento
Peneirado, o material é cozido em água e outras substâncias para que a celulose e a lignina (uma polpa marrom) sejam separadas.
Transformação química – Clareamento
A lignina é clareada e refinada para a retirada de impurezas. São acrescentados aditivos, como corante e talco.
Transformação física – Prensagem
A massa úmida vira uma grande folha. Ela passa por rolos de prensagem, que a compactam e a alisam, definindo a espessura.
Transformação física – Secagem
A folha passa por rolos com ar quente, que retiram o excesso de água. Por fim, se descola da esteira. O papel está pronto para empacotamento.